sábado, 29 de dezembro de 2012

Introdução - Memórias fotográficas




            Vejo minhas mãos que já foram menos grosseiras e marcadas. Sinto-me incompleta, vazia, velha. Sim, tenho 23 anos e sinto-me como velha. O sol ilumina lentamente meu quarto, seus raios atravessam pelas persianas com uma delicadeza diferente do comum.
            Sozinha. Estou sozinha. Nunca realmente consegui imaginar como eu viveria num apartamento sozinha, tive que me adaptar aos poucos. A quem quero enganar? A culpa é toda minha! Eu o deixei, arrisquei toda minha felicidade por impulso. Tentei ter uma vida espontânea, diferente, e deixei pra trás toda minha base e chão.
            Minha vida não é necessariamente triste, vivo do jeito que sempre quis viver, escrevendo, tirando fotos e me adaptando a mudança, mesmo assim, depois que fui embora, escrever tornou-se pacato e chorar desnecessário:
            -  Bom dia! – deu um grito totalmente louco, um tanto animado para uma manhã de segunda-feira. Mariana era minha amiga, levava-me a festas, bares, enfim, à vida noturna. Tocava bateria numa banda, completamente doida. As vezes eu me juntava a ela e começava a cantar, mas isso, só depois de várias doses de whiskey.
            - Bom dia – respondi secamente, já que permanecia presa nos meus pensamentos matinais.  Com eles vou tão longe, que perco a noção de como o tempo passa, ora no meu quarto, ora no ônibus ou trabalho. Bebi um gole de café que estava na minha mesa.
            - Como sempre, garanto que não fez nada ontem.
            Como ela pode saber isso? Seria minha espontaneidade tão previsível?
            - Na verdade fiz muita coisa. – como se eu realmente tivesse feito, escrevi sobre uma joaninha no jardim e dormi até demais. O café já não faz o efeito desejado.
            Ela ficou em silêncio, sabia que eu estava mentindo. Ela percebia que minha vida ia devagar como uma lesma atravessando um campo de futebol. Preferi não comentar nada, afinal, escrever sobre joaninhas parece um tanto infantil. Mariana começou a descrever a noite que passou, com quem estava e pra mim pouco importava. Eu estava tendo crises existenciais.
            Normalmente na vida de todo mundo, aqueles flashbacks aparecem do nada, trazendo sentimentos e memórias, e naquele momento, a pior apareceu:
            - Você me ama? – eu perguntava escondida entre minhas mãos, rindo.
            - Sim eu te amo.
            - Você vai me amar pra sempre?
            - Claro que vou. E nunca vou te abandonar. – quando ele dizia isso, parecia ser sincero, e eu acredito que era.
            Outro gole de café. Substituo lágrimas por café, remédios pra dormir e bebidas. Ignoro completamente o que está acontecendo pra me focar no meu trabalho que não queria fazer.
            - Você tem que esquecer seu passado. – Mariana falou alto, tentando chamar minha atenção.
            - É o que sempre me dizem. – suspirei.
            - Você pode parar de ser tão melancólica só um pouco? Isso é chato e enjoativo.
            Não entendi se foi sério ou não. Talvez ela tivesse verdade. Só um pouco.
            A realidade é dura demais comigo. Acho que nunca consegui lidar direito com as decepções que a vida traz, sempre me escondi atrás de uma parede imaginária que construí ao longo dos anos. Poucos anos.
            No fim do dia resolvi fazer a coisa que ainda me deixava feliz, fotografar. Podia estar em depressão ou extremamente eufórica, algo não podia faltar: minha câmera.
            Fotografava o fim da tarde, em anos, pude comprar uma câmera boa o suficiente pra dar mais detalhes ao por do sol. Fotografar não era algo relacionado ao meu trabalho, era um hobby. Talvez se eu trabalhasse com isso, não seria tão divertido. Eu sempre parava crianças, idosos ou adultos para tirar uma foto, os adultos não tinham tempo, precisavam voltar pra suas casas e preparar a comida dos filhos, limpar a casa ou passar mais um tempo fechados longe de seus escritórios. Um tanto irônico.
            Assim como no livro: O pequeno príncipe, eu tinha medo de me tornar adulta demais, chegar um dia que eu vivesse uma vida tão apressada que me esquecesse das coisas que mais gosto de fazer, não acredito que seja uma escolha. Eu não entendia quase nada daquilo.
            Cachorros passavam, pássaros voavam lentamente pelo céu, em conjunto, formando um V grandioso no céu, indo dormir, cuidar de suas vidas, mas não tinham tanta pressa quanto os humanos.
            Voltei pra minha casa, onde tudo ocorreu como sempre: Jantar e dormir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário